QUE HORAS SÃO NO PARAÍSO (2017-2019)
A formação terrena é rochosa e a ilha vinga sobre oposições. Estradas conectam os extremos do território rasgando florestas permeadas de um lado por encostas de pedra, do outro por praias com curtas faixas de areia coladas em paredões de pedra vertical. Ilhotas fluviais, formações coralígenas e baixios em meio ao mar.
Pedras brancas cobrem o fundo dos rios, ligeiramente esculpidas pelo movimento das águas e dos ventos. Produto das dinâmicas de mutação do mundo, acumulação e corrosão. Pedras-corpo, corpo-âncora; rastro e testemunho da ilha, quase ilhas elas mesmas. É junto a elas que aprendo o princípio da corrosão, do desgaste; como microcosmos, carregam resultados distintos das dinâmicas de forças que atuam no mundo. E parecem conter em parte o enigma que constitui a ilha.
Se pensarmos na lógica taoísta, é possível inferir que o desejo de produzir uma imagem passaria, em alguma medida, por uma tentação de tocar o enigma do mundo, mimetizar–se a ele e se aproximar de uma imagem-resposta. Pois, o enigma que move essa série talvez esteja justamente na pergunta que a instaura. Que horas são no paraíso?
Seria o paraíso o lugar primeiro da utopia, definida por Foucault como um “lugar fora dos lugares onde eu teria um corpo sem corpo… um corpo que seria límpido, veloz, colossal, belo, e sobretudo incorporal.” Lugar plácido, de um mar azul turquesa, a ilha banhada em plena cordialidade e segurança. No entanto, não há experiência plácida ou incorpórea possível nessa ilha, a não ser nos falsificados cenários dos resorts. Ela é ruidosa e potente.