29 de Junho a 3 de Setembro de 2022 / Casa Gal, Belo Horizonte / MG
Gal apresenta as mostras individuais Os Lados de Um Telhado se Contam em Águas (Extended Remix), de Daniella Domingues, Dar Templo ao Tempo, de Julia Panadés e a instalação Cozinha do Fim do Mundo do artista em residência Shima. As pesquisas dos três artistas se configuram de modos particulares em seus fazeres, mas se tangenciam e se alimentam mutuamente na partilha da vida. Daniella, Julia e Shima têm, cada um à sua maneira, questões da memória e da ancestralidade como disparadores de suas produções e encontram, talvez na ação do tempo sobre a matéria, seu maior ponto de contato.
DAR TEMPLO AO TEMPO
DESPROVIDAS
TROCAM TESOUROS
NUMA ORQUESTRA
DE RESTOS
NADA PEDEM QUE
NÃO POSSAM DAR
Em Dar templo ao tempo, Julia Panadés apresenta a série Ancestralidade, com desenhos, poemas, bordados e costuras, em uma fabulação poética de seres híbridos. Mulher fita, mulher geológica e mulher canoa são algumas das figuras a evocar o envoltório de onde partimos, a embarcação uterina de um vir ao mundo, não apenas comum ao humano, mas ao planeta. Flutuam ciclos geracionais de formações arcaicas, erguem-se os ventres vulcânicos das montanhas, metamorfoses arborescentes do vivo prolongam suas extremidades corpóreas. O ar sustenta a origem da chama, tudo é muda em torno da permanência, cuidado é a meditação do ovo.
A exposição Dar templo ao tempo, em seus desenhos e poemas, abriga essa atmosfera orgânica povoada por modos de existência humanos e não humanos. Dar templo ao tempo é, ainda, um propósito envolvido na feitura das obras, num processo ritual dedicado a habitar o ritmo, ritmar o hábito, porque o ateliê descansa o corpo num ponto neutro entre o avanço e o recuo dos gestos. A prece sem pressa é diluída e condensada no manejo da água, no pigmento absorvido pelo papel, no deslize poroso do grafite, no atrito da cera, na secura do carvão, nas tramas do tecido, nas dobras dos planos, na linha de costura bordada, no poema do começo continuamente inacabado, feito, desfeito e refeito, na sequência de um ritmo. O conjunto reunido na mostra é composto, em sua maior parte, por imagens concebidas entre 2020 e 2022, mas abarca e atualiza peças em tecido, escritos e dobras da série Corpo em Obra, de 2019.
Julia Panadés
Belo Horizonte, junho de 2022