26 de Maio a 17 de Julho de 2022 / Galeria do Centro Cultural Sesiminas, Belo Horizonte / MG

GAL, em parceria com a Galeria de Arte do Centro Cultural Sesiminas, apresenta “Frágil Equilíbrio”, primeira exposição individual da artista pernambucana Dolores Orange. A mostra reúne um conjunto de 50 trabalhos inéditos de três séries da artista: “Os Dias Estão Todos Ocupados” (2020-2022), “Arranjos” (2021) e “Diário” (2021 -). 

FRÁGIL EQUILÍBRIO

O olhar acompanha as combinações de tons pastéis, a predominância do fundo branco, o contraste intenso das cores bem vivas e o fundo preto que não se deixou completar. O frágil equilíbrio é experimentado nesta mostra como uma alegria que é breve, alicerçada em formas simples que se apoiam mutuamente e, assim, se sustentam. Como os campos de cor que estão por um fio, uma linha, de se derramarem.

A juventude na capital pernambucana permitiu a Dolores Orange o encontro com Francisco Brennand (1927-2019), com quem estabeleceu uma amizade próxima durante a penúltima década de vida do artista. Brennand aparece em sua trajetória como uma figura importante que alimenta a curiosidade da jovem e a faz compreender e investigar os sentidos da própria percepção. Hoje, inspirada pelos trabalhos do início da carreira do pintor e ceramista, Dolores não nega o fascínio pelas telas coloridas desse seu primeiro mestre. A presente seleção expressa essa influência que se desenvolve e reverbera sob encadeamentos contemporâneos.

O início de sua expressão artística é marcado pelo isolamento da pandemia e é interessante observar os reflexos desse contexto histórico em sua produção. Diante das limitações de espaço e condições apropriadas para a prática em ateliê, Dolores encontra nos pastéis oleosos e aquareláveis, há muito guardados, a ferramenta para mergulhar no que se tornaria “Os Dias Estão Todos Ocupados” (2020 – 2022). Nesta série, a artista usa a contagem dos dias em que se dedicou àquele processo para dar nome aos trabalhos. Assim, nos revela uma fresta que permite fantasiar, feito pedestres curiosos diante de uma janela aberta, como se dava a vida naqueles dias. Através dos títulos-números, em ordenação cronológica, é possível encontrar os intervalos de tempo dedicados a explorar uma ou outra paleta; suas formas, seus encontros, ausências e rearranjos. Todos ocupam progressivamente o campo do papel, deixando pelo caminho o vestígio do gesto evidente, de quem documenta com intensidade que esteve ali – viva como a paleta – por todos aqueles dias. Os períodos de hiato, em contraste, destacam a condição de quem observa, à distância, o que foi feito: se foi balanço ou pausa; pesquisa ou ócio. 

Nas séries “Arranjos” (2021) e “Diário” (2021 – ), ainda profundamente interessada pelos excessos, Dolores busca harmonia e elegância nas cores. Vemos a introdução da tinta a óleo e acrílica e o lápis de cor, em tons cuidadosamente apurados nas misturas, que permitem à artista o movimento de examinar as tensões da saturação intensa, compondo um conjunto íntegro, que não hierarquiza os materiais. Na verdade, a artista faz uso dos materiais disponíveis – o que tem à mão –, ora lidando com as imposições do espaço, ora trabalhando conforme os limites das cores prontas, para formar novos sentidos, para se surpreender, para convocar o acaso. Dar o nome de “estudo” à fatia da produção que surge de intenções mais experimentais e livres é parte da construção estruturalista que aprendemos ainda muito jovens. Entretanto, a investigação proposta intenciona observar o papel intrínseco da contingência no trabalho com o pastel e a tinta, semelhante ao bricoleur de Lévi-Strauss, em uma operação que se estabelece fundamentada nos próprios desdobramentos. 

A maneira como aborda a pintura tem algo de impulsivo, o que é revelado pela ausência de esboços, Dolores prefere aplicar a tinta diretamente no papel branco fazendo uso de pensamentos quase imediatos, recém incluídos em seu diário, que vão prontamente para o trabalho. “Tem uma coisa da fé no acaso, na aposta: um exercício da confiança na própria pintura”, diz. As oscilações provocadas por esse método trazem um caráter irônico para a produção encontrada aqui, a partir do próprio título da mostra – o equilíbrio anunciado não se verifica. Há trabalhos coloridos e vibrantes feitos em um período sombrio de crise; há cores suaves e delicadas, usadas para refletir uma memória difícil. Talvez o equilíbrio se lavre na maturação do fazer – ou se apure pela reflexão da pausa. Em todo caso, diante da estabilidade incômoda de um sistema, a pintura de Dolores considera o caminho de provocar um abalo pelo excesso, com o desejo de encontrar equilíbrio em outro ponto.

Texto crítico: Marina Romano | Curadora: Laura Barbi (GAL)

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OBRAS DISPONÍVEIS

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