
Agosto 2019/ Palácio das Artes, Belo Horizonte/ MG
Em parceria com o 21o FestCurtasBH e a Fundação Clóvis Salgado, Vislumbres de Uma História de Cinema é a primeira exposição individual da artista pernambucana Clara Moreira em Belo Horizonte.
Desde 2006, Clara Moreira produziu 67 cartazes para filmes e festivais de cinema — incluindo a identidade visual da Semana dos Realizadores, do Rio de Janeiro, e da Janela Internacional de Cinema do Recife, onde vive e trabalha. Neste período, nenhum outro artista gráfico acompanhou tão de perto e de forma exclusiva a produção do cinema independente brasileiro como Clara, que utiliza desenhos feitos à mão, com técnicas como o desenho em lápis de cor, em grafite, pastel seco, pastel oleoso, tinta acrílica, nanquim e carvão, sem intervenção digital.
Entre os filmes de cartazes ilustrados por Clara estão as produções mineiras Ela Volta na Quinta, de André Novais Oliveira, A Cidade Onde Envelheço, de Marília Rocha, Material Bruto e Permanências, de Ricardo Alves Jr., O Porto, de Clarissa Campolina e colaboradores.
Clara realizou ainda diversos trabalhos para os premiados pernambucanos Bárbara Wagner e Benjamin de Burca e Kleber Mendonça Filho. Deste último, de quem Clara ilustrou os cartazes de Recife Frio e O Som ao Redor, a artista produziu o cartaz especial de Bacurau.
Em entrevista à Revista Bravo! Clara disse sobre o cartaz de Bacurau: “A principal característica do bacurau é que ele é um superpredador. Ele tem um bico bem pequenininho, mas o rasgo da boca é imenso, porque ele come inclusive insetos grandes, como vespas. Ele caça e come voando, ele abocanha esses insetos no voo. É uma cena rara de ser captada. Isso traz a gente para uma frase que é dita no filme: “É um bicho brabo, que só sai à noite.” Então foi natural que ele fosse desenhado à noite, quando está ativo, caçando, sobrevivendo. Esse ataque nada mais é do que ele sobrevivendo.”
O cartaz especial de Bacurau integrou uma seleção de 40 cartazes de cinema que puderam ser vistos em Vislumbres de Uma História de Cinema, além da seleção de 19 desenhos originais da artista. Os desenhos, sempre feitos à mão, mostram o processo para além do produto gráfico que é o cartaz.
Ainda na Bravo! Clara diz: “É impossível ter um método, porque como eu trabalho dentro desse ambiente da produção independente — curtas-metragens e pequenos filmes de baixo orçamento — digamos que é tudo muito pessoal, a partir da direção. Às vezes o realizador tem uma imagem bem esquematizada do que ele quer ver num cartaz. Mesmo assim atravessa o corpo e vira uma coisa que passou por dentro de mim. Leva um pouco do meu momento, dos meus interesses, curiosidades, desejos, sentimentos. Passa por mim, mas a provocação e a inspiração vêm também desse mergulho no outro, desse mergulho no filme.” Para Clara, o cartaz de cinema precisa despertar algum tipo de saudade, “sabe quando você quer levar um cartaz pra casa? Foi em busca desse sentimento que eu comecei a fazer cartazes de cinema, porque eu mesma era e ainda sou colecionadora e ladra dos cartazes dos filmes que amei”.