Clara Moreira participa da mostra Corpo, Conto na @galerialume em São Paulo.
“Da oralidade dos povos originários à personificação da Grécia em Homero, sempre houve uma necessidade humana em contar e ouvir histórias, criar narrativas e com elas símbolos, lendas e arquétipos. Então, com o passar do tempo, forjam-se textos e criam-se imagens como forma petulante de uma verdade arranjada por séculos de interpretações e interesses daqueles que passam a deter o controle da narrativa. Pouco, ou quase nada, se sabe sobre o poeta grego Homero, então o que hemos de saber sobre o monstro vermelho, Gerião, morto por Hércules na lida de concluir seus 12 trabalhos? E se tivesse ele afeto por seu vermelho rebanho, se tivesse carinho pelo seu cão, e se tivesse vivido um grande amor ou uma avassaladora rejeição? Pouco, ou quase nada, se conhece sobre os Guarani. Muito se perdeu num esforço proposital de apagamento da memória. Bastante se sabe sobre as leituras cristãs, sobre a demonização ocidental de tudo aquilo que nega sua cultura. Da cobra, do pecado original, ao cristo branco pregado na cruz. Narrativas.
As obras de Clara Moreira e Manuela Costa Silva são contadas pelos corpos. Corpos que são também contos, histórias que não se encerram no maniqueísmo entre bem e o mal, mas se definem no domínio das próprias artistas sobre seu conhecimento. Aqui, Gerião se transmuta no rosto de Clara, traz a constante dicotomia humana, hora divino hora monstruoso. Aqui, Camucim fala da cova da consciência, do ventre telúrico que transporta aquele que ali descansa sua cabeça para dentro de si, em água e sonho, como bem definiu Manuela.
Sem buscar uma verdade única, “Corpo, Conto” propõe um estado de abertura para novas significâncias, longe das imposições ocidentais de um saber controlador.”
texto: Galeria Lume (https://galerialume.com/exposicao/corpo-conto/)
Imagens:
Clara Moreira
Gerioneida (como quando uma papoula), 2023
desenho de lápis de cor sobre papel de algodão
2,00 x 1,15m